sábado, 18 de janeiro de 2014

JUSTIFICATIVA

                  São muitos os papéis que passam por minhas mãos todos os dias. Os livros e revistas que adquiro para minha livraria de usados mas também os anexos que os acompanham, que naturalmente outros sebistas desprezam mas que eu, por alguma razão que desconheço, teimo em guardar. Chego tarde quase sempre, os parentes já rasgaram, queimaram, colocaram no lixo. Alguns têm sorte e um filho ou neto zeloso olha com carinho para a papelada, mas a geração seguinte raramente cuida. Eles olham e pensam: quem é essa gente, não conheço ninguém...   Poemas de bons e maus poetas, cartas tristes ou alegres, comerciais, amorosas, rudes, comuns, chocantes, virulentas, algumas de notável valor poético, filosófico...    Fotos, santinhos, relatos de viagens, diários, memórias, de gente interessante e de gente absolutamente sem nenhum atrativo mas que, por terem um dia vivido uma vida, mesmo numa folha totalmente desprovida de valor artístico, totalmente insossa,  têm em seus escritos extraordinário valor documental. Afinal, como saber das experiências dos antigos senão por seus escritos e fotografias ?  Aqui neste canto da web encontrarão seu refúgio. Sonhos, pequenas quimeras, desencantos, suspiros e meditações de gente simples ou de letrados que estavam na obscuridade das gavetas, sótãos e baús,  encontrarão aqui a sua publicidade. Veremos que a vida é passageira, um dia nossos papéis e lembranças irão para a reciclagem, hoje estou aqui escrevendo, daqui a 30 anos nada restará de mim, salvo a lembrança querida de um neto, de um amigo, de um parente, num cantinho de suas memórias...   Daí este refúgio dos salvados. Papelada que resgatei, que salvei, que comprei ou ganhei, ou que alguém salvou e me entregou como se entrega um bem precioso. Porque muita gente me entrega as lembranças de seus entes confiando na guarda diligente. Fico tão feliz ! Esses também merecerão figurar no rol dos refugiados, dos salvados, não pelo abandono dos seus, que pelo menos entregaram para alguém guardar,  mas pelo esquecimento do mundo. Agora, finalmente, o mundo - pois a web é mágica a esse ponto - o mundo poderá lê-los !  Aquele professor que se exercitava nos poemas filosóficos e que estavam condenados ao eterno ineditismo encontrará seu refúgio neste canto das 'Memórias dos Esquecidos'. Aquele compositor das melodias que ninguém tocou, que ninguém cantou, achará, depois da partida, seu cantinho nesta seara dos olvidados. Quem sabe encontrará o pobre leitor algo interessante, alguma fonte para sua pesquisa, algum dado que lhe ajude numa tese ou, quiçá, mero prazer de leitura, entretenimento.  Mas quero pedir que se porventura houver um eventual parente de alguém merecedor de publicação neste refúgio, que seja, por comiseração, condescendente, compreensivo, tolerante, amigo,  já que não visa este escriba lucro algum e sim  gasta seu tempo em prol do tempo que essas almas já desencarnadas gastaram para escrever, em benefício da vontade que tiveram um dia de que fossem lidas, comentadas, lembradas.  Isto aqui é o jardim dos esquecidos.  O maior crime que se pode cometer numa família é alguém destruir um diário, as poesias de um pai, de um avô, queimar as fotos que a vovó guardava numa caixa pela vida inteira. As fotos têm uma carga de emoção de uma existência. Se guardou, havia um sentido.   Se ele escreveu um diário é porque gostaria de ser lido no futuro. Nenhum parente insensível tem o direito de destruir, apagar  as lembranças de um antepassado. Este trabalho é um resgate,  e que seja compreendido dessa forma. Se forem medíocres as linhas, ruins os escritos, paciência, mea culpa se foram exumadas indevidamente... Mas,  se forem merecedores de algum aplauso, de algum estudo, de meditação, já terá valido a pena. Obrigado.      

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